Parauapebas e os 40 anos da Vale: bilionária, mas sem motivo para comemorar

há 5 dias 11

O que seria de Parauapebas sem a Vale? Essa é uma pergunta que incomoda, mas que não pode ser ignorada. O município mais rico do Pará em arrecadação depende, em grande parte, da presença da mineradora que há quatro décadas explora o subsolo da região, levando minério de ferro para o mundo e despejando cifras bilionárias na chamada “capital dos bilhões”.

Só de 2020 até agosto de 2025, mais de R$ 5 bilhões entraram nos cofres do município por meio do ISS e da CFEM, recursos diretamente ligados à atividade mineral. Em paralelo, a empresa mantém um impacto direto na economia local: no primeiro semestre deste ano, foram R$ 4,5 bilhões em compras com fornecedores de Parauapebas, além de mais de 12 mil empregos entre próprios e terceirizados. Em 2025, a companhia ainda assinou um termo de compromisso com a Prefeitura, destinando R$ 100 milhões a áreas como saúde, infraestrutura e diversificação econômica.

São números que impressionam e que reforçam a imagem de que Parauapebas é uma cidade que gira em torno da Vale. Mas até que ponto esse protagonismo é positivo? Se por um lado o dinheiro movimenta a economia, garante empregos e dá ao município cifras que a maioria das cidades brasileiras jamais verá, por outro, deixa clara a dependência quase absoluta de uma única fonte de riqueza.

A Vale se apresenta também como guardiã ambiental, com a proteção de 800 mil hectares de floresta amazônica no Pará em parceria com o ICMBio. Um contraponto à exploração mineral que, mesmo dentro da legalidade, transforma a paisagem e levanta questionamentos sobre o futuro de Parauapebas após o ciclo da mineração.

Na celebração de seus 40 anos de operação, a mineradora fez questão de ressaltar os investimentos feitos, mas a realidade mostra que a cidade pouco diversificou sua economia. O risco é evidente: quando a mineração perder força, restará a pergunta que ainda ecoa — o que seria de Parauapebas sem a Vale?

Hoje, a “capital do minério” ainda vive na bonança dos bilhões, mas a crítica que paira é se o município tem se preparado de fato para o dia em que não haverá mais minério para explorar. Se não houver esse planejamento, os números grandiosos de agora podem se transformar em uma herança de dependência e fragilidade econômica no futuro. A tão sonhada diversificação econômica nunca saiu do papel: Parauapebas já apostou em projetos mirabolantes de turismo, com gastos milionários em viagens até internacionais, como a ida de uma comitiva a Dubai sob a promessa de trazer tecnologias revolucionárias, e iniciativas na floresta amazônica que se venderam como impulsionadoras do turismo mundial. Nada disso trouxe retorno real. Foram propagandas que alimentaram ilusões, mas que não resultaram em alternativas sólidas para além da mineração. Diante desse histórico de promessas não cumpridas, a esperança da população agora se deposita no novo gestor, Aurélio Goiano, que carrega a responsabilidade de transformar em realidade aquilo que, por décadas, não passou de discurso vazio.

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