Representantes do grupo LGB — que reúne lésbicas, gays e bissexuais — anunciaram no dia 19 de setembro a separação do movimento LGBTQIA+, que inclui transexuais, queer, intersexo, assexuais e outras identidades.
O comunicado foi divulgado em vídeo pela LGB Internacional, que conta com representação no Brasil. A publicação alcançou quase 12 milhões de visualizações nas redes sociais.
A iniciativa marca uma tentativa de redefinir os objetivos do movimento, com foco em pautas de orientação sexual e afastamento das causas relacionadas à identidade de gênero, como as de pessoas trans, travestis e não binárias.
Formação e atuação da LGB Internacional
A LGB Internacional foi formalizada em setembro de 2025 e já está presente em 18 países.
De acordo com seu estatuto, a organização tem como meta “promover e defender os direitos de lésbicas, gays e bissexuais com base no sexo biológico e na orientação sexual”, sem adotar políticas ligadas à identidade de gênero.
Na campanha de lançamento, ativistas de vários países divulgaram mensagens defendendo a separação entre as duas pautas. Em um dos vídeos, os participantes afirmam que “os direitos dos gays não podem se opor aos direitos das mulheres” e criticam o uso de pronomes neutros.
No Brasil, a representação é feita pela Aliança LGB Brasil. Uma das diretoras, Mariele Gomes, afirma que a fusão entre orientação sexual e identidade de gênero “apaga a base biológica da sexualidade”, que, segundo ela, é definida pelo sexo e não por identificação pessoal.
Críticas à identidade de gênero e a transições
O movimento LGB Internacional é uma ampliação global da LGB Alliance, criada no Reino Unido em 2019, que também defende a separação entre orientação sexual e identidade de gênero.
A principal divergência do grupo está na oposição à ideia de que o gênero possa diferir do sexo biológico, além da crítica a tratamentos médicos de transição de gênero, especialmente em crianças e adolescentes.
Em nota publicada no site oficial, a organização afirma defender o direito de adultos e jovens “a desenvolverem sua sexualidade sem ideologias de gênero” e destaca que “crianças devem ser protegidas de procedimentos médicos de transição”.
Divergências com o movimento LGBTQIA+
A Aliança LGB Brasil afirma que parte das bandeiras adotadas pelo movimento LGBTQIA+ causa rejeição pública e confusão conceitual.
Em publicação recente, o grupo declarou que “quando associam o casamento entre pessoas do mesmo sexo a temas como transição infantil, linguagem neutra ou redefinição de mulher como sentimento, há perda de credibilidade da pauta LGB”.
Mariele Gomes acrescenta que o movimento busca “retomar o foco na orientação sexual”, alegando que as antigas organizações foram “absorvidas por uma agenda centrada em identidade de gênero”.
Casos recentes reacendem debate sobre identidade de gênero
O anúncio de separação ocorre em meio a discussões sobre participação de atletas trans em competições femininas.
Em Campo Grande (MS), no dia 6 de setembro, a equipe Leoas se recusou a jogar após o time adversário escalar uma atleta transexual em um campeonato amador de futebol feminino.
A técnica Bárbara Santana afirmou que a decisão foi tomada para proteger a integridade física das jogadoras.
Outro caso envolve a skatista Luiza Marchiori, que venceu o Campeonato Brasileiro de Skate Feminino em 21 de setembro. A atleta, que competia na categoria masculina até 2023, foi alvo de críticas nas redes sociais.
A defesa de Marchiori declarou que parte dos processos judiciais mencionados contra ela “já foi arquivada” e que a esportista “foi readmitida nas competições oficiais”.
Entidades LGBTQIA+ reagem à separação
A reportagem entrou em contato com a Aliança Nacional LGBTI+, que preferiu não comentar o rompimento, mas encaminhou uma resolução interna publicada em março deste ano.
Já a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) divulgou nota oficial afirmando que “todo LGB transfóbico é um traidor”. A entidade considera o movimento de separação uma “estratégia que busca marginalizar pessoas trans”.
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