Belém renasce com a COP30: uma cidade para as pessoas, como sempre deveria ter sido

há 2 dias 7

Belém vive um renascimento. E quem caminha pelas ruas da cidade percebe isso com clareza: do centro à periferia, obras estão sendo concluídas, novos espaços públicos estão surgindo e a capital paraense redescobre uma vitalidade que há tempos parecia adormecida. As praças, parques, boulevards e complexos culturais estão cheios — e cheios de todos. Crianças, idosos, jovens, casais, famílias inteiras ocupam os espaços urbanos de forma plural e democrática. É uma cidade que volta a pertencer às pessoas, como sempre deveria ter sido.

Isso não significa ignorar os muitos problemas que ainda persistem. Eles existem e precisam continuar sendo cobrados. Mas negar o avanço que se vê nas ruas seria injusto. O Porto Futuro 2, por exemplo, tornou-se um marco urbano. Um equipamento moderno e multifuncional que complementa a Estação das Docas e redefine a relação da cidade com sua orla. Caminhar hoje pela Marechal Hermes, mesmo com trechos em obras, é testemunhar um espaço que voltou a pulsar. Calçadas movimentadas, famílias passeando, jovens se encontrando e empreendimentos valorizando a região. O que antes era área degradada, hoje respira vida.

O mesmo vale para o Boulevard da Gastronomia, que viveu dias de festa com palco montado e atrações culturais, ou para a nova dinâmica do Reduto, bairro que tem tudo para se tornar o epicentro do novo urbanismo belenense. Ali, Porto Futuro 1 e 2, o Parque Linear da Doca e novos negócios apontam para um futuro promissor — desde que se supere a resistência à verticalização e se pense um projeto urbano que combine memória e modernidade.

Belém está viva como há muito não se via. Espaços públicos lotados, museus com filas, parques cheios, eventos espalhados por diferentes bairros. Não é exagero dizer que a cidade renasceu depois da pandemia — e que esse movimento ganhou ainda mais força com a COP30. A mobilização em torno do evento funcionou como catalisador de um processo de transformação que, mesmo longe de ser perfeito, é significativo.

É claro que desafios permanecem. A região da Pedra do Ver-o-Peso, a Praça do Relógio, a Praça Dom Pedro II e a João Alfredo ainda enfrentam problemas estruturais e sociais graves. Usuários de drogas, desorganização e ocupação irregular prejudicam a imagem da cidade. Mas exemplos de sucesso, como a reorganização da Feira do Açaí, mostram que soluções são possíveis com vontade política. A expectativa é que o projeto do Mercado das Águas seja um divisor de águas nessa região.

A preparação para a COP30 não foi tarefa simples. Belém teve pouco tempo — cerca de dois anos — para organizar uma estrutura capaz de receber um evento global. Mesmo assim, entregou resultados que merecem reconhecimento. Não se trata de transformar a capital em uma cidade europeia em dois anos, mas de aproveitar a oportunidade para dar saltos que, em condições normais, levariam décadas.

As críticas, muitas delas motivadas mais por ideologia do que por preocupação genuína, ignoram um fato essencial: nada do que está sendo construído será “elefante branco”. Todos os equipamentos têm uso permanente e estão sendo apropriados pela população desde já. E mais: geram emprego, renda e oportunidades, tanto formais quanto informais, especialmente para trabalhadores da periferia que participaram da construção dessas obras e agora também se beneficiam delas.

Além disso, a COP permitiu destravar investimentos históricos. Projetos de saneamento e drenagem, como os da Bacia do Tucunduba, do Curió-Utinga e da Marambaia, avançaram com recursos federais viabilizados pelo evento. O BRT metropolitano, por sua vez, beneficiará diretamente milhares de trabalhadores que dependem do transporte público.

As críticas de hoje são ecos do passado. Foram as mesmas quando se construíram a Estação das Docas, o Mangal das Garças, o Parque da Residência e o Feliz Lusitânia. Todos foram chamados de “obras para a elite” e hoje são equipamentos indispensáveis ao cotidiano e à identidade da cidade. O tempo mostrou o valor dessas transformações — e mostrará novamente.

Belém não resolverá todos os seus problemas com a COP30. Ainda há muito a ser feito, e ninguém deveria alimentar ilusões quanto a isso. Mas, depois de anos de abandono e invisibilidade, a cidade merecia esse impulso, essa oportunidade de se reinventar. A COP não é um ponto final — é um ponto de partida. E, se soubermos aproveitar esse momento, será lembrada não apenas como um evento internacional, mas como o marco de um novo capítulo na história urbana de Belém.

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