A cobertura do Círio de Nazaré deste ano trouxe o olhar do Brasil inteiro sobre Belém. Com o avanço das redes sociais e o trabalho de plataformas como a Mídia Ninja, a maior manifestação religiosa do Norte do país ganhou ainda mais visibilidade. Mas junto da curiosidade, vieram também os comentários desinformados — especialmente de internautas do Sudeste — sobre a quantidade de lixo deixada nas ruas após a passagem da procissão.
Um vídeo que mostrava o trabalho das equipes de limpeza logo depois da trasladação recebeu uma enxurrada de críticas. “Por que não levam suas ecobags e garrafinhas?”, questionavam alguns. Outros sugeriram o uso de copos biodegradáveis, como se a romaria fosse um evento indoor de poucas horas.
A realidade, porém, é bem diferente. Durante o Círio, o calor e o empurra-empurra da multidão tornam o acesso à água uma questão de sobrevivência. Milhares de voluntários distribuem copinhos plásticos ao longo do trajeto para que os promesseiros consigam se hidratar enquanto caminham, muitas vezes descalços, puxando a corda. Quem está ali sabe: não há como parar, guardar lixo ou levar garrafas no meio de mais de 2 milhões de pessoas espremidas nas ruas de Belém.
Por isso, o trabalho das equipes de limpeza é essencial. Assim que a imagem da Santa passa, dezenas de garis entram em ação e, em poucas horas, devolvem a cidade limpa para o dia seguinte de procissões. Neste ano, parte dessa força-tarefa contou com um reforço especial: pessoas em situação de rua que participaram do projeto “Trilha do Despertar”, uma capacitação de três semanas em reciclagem e preparação profissional. Doze participantes foram aprovados e atuaram durante os dias de Círio, em um exemplo de inclusão social que emocionou quem acompanhou de perto.
Em meio às ironias e julgamentos de quem vê de longe, o Círio segue mostrando o que realmente importa: fé, solidariedade e o esforço coletivo de uma cidade que se transforma por inteiro para receber a Rainha da Amazônia.