A atriz e estrela do Carnaval Quitéria Chagas marcou presença na estreia da nova montagem da comédia musical “Mudança de Hábito”, sucesso da Broadway que acaba de estrear no Teatro Multiplan, no Rio de Janeiro. O espetáculo, estrelado por Amanda Vicente, fica em cartaz até o dia 23 de novembro. Em entrevista à repórter do portal LeoDias, Monique Arruda, Quitéria falou sobre sua trajetória de mais de 25 anos no Carnaval, sua luta contra o etarismo e a importância da representatividade e do equilíbrio no samba.
Quitéria participa do Carnaval carioca há 25 anos. Segundo ela, continua em 2026 no posto de Rainha de Bateria da escola Império Serrano, sendo que a escolha do samba-enredo da agremiação será feita neste sábado (18/10). Recheada de gratidão pelo período, a atriz também falou sobre a luta contra o etarismo: “Estou muito feliz de continuar, ser uma rainha veterana; e ser contra essa questão do etarismo. Todo mundo bate tanto nessa tecla e não é fácil a gente ficar num reinado há tanto tempo, durar tantos anos – como eu e a Vivi, Viviane Araújo, que também é maravilhosa. A gente tem uma história muito forte. A coroa de uma rainha é um processo de resistência, é muita luta para se manter também”, disse Quitéria.
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Abrir em tela cheiaQuitéria destacou que o Carnaval, além de ser uma festa popular, é um espaço político e de disputa por reconhecimento. “O Carnaval foi construído pela comunidade negra e tem uma importância social. Todo mundo vestia longo, não tinha festa do corpo, da carne, não falava nem das questões religiosas que eram proibidas… Então, foi muito discriminado pela sociedade e com o tempo a comunidade negra abriu para poder se tornar o Carnaval plural e inclusivo. O Carnaval comporta agora todo mundo, raças, etnias, enfim; isso é importante porque tornou a identidade do povo brasileiro”, afirmou a atriz, após ser perguntada sobre a diversidade de mulheres, incluindo influenciadoras, se tornando Rainhas de Bateria.
Além disso, sobre o debate em torno de quem deve ocupar o posto de rainha nas escolas, Quitéria defendeu que o caminho está no meio-termo: “Tem que ter um equilíbrio, tem que ter uma equidade para também você permitir que mulheres de comunidades tenham um espaço de protagonismo. Eu entrei em um período que 99% eram rainhas que não eram da comunidade; então, isso é ruim porque elas eram praticamente excluídas daquele espaço. Hoje em dia está mais equilibrado: no grupo especial você vê muitas rainhas da comunidade, tem pessoas que não são, porque cada escola tem uma direção, tem uma forma de comando, tem também uma identidade”, refletiu.
A artista acredita que a diversidade deve ser celebrada, desde que acompanhada de oportunidades justas. “O Carnaval é para todo mundo, agora, a questão de espaços de protagonismo, tem sempre que pesar bastante… Dar espaço para as meninas da comunidade, mas também pode ter outras personalidades. O equilíbrio é tudo na vida. Têm grandes rainhas que foram crescendo e melhorando o samba, se tornando sambista com o tempo, e a gente só vê na prática”, pontuou ela, reforçando a importância de valorizar quem faz parte da base das escolas, sem criar divisões.