Mulher que perdeu a visão após intoxicação por metanol dá 1ª entrevista e relembra ocorrido: “Acordei passando mal” Mulher que perdeu a visão após intoxicação por metanol dá 1ª entrevista e relembra ocorrido: “Acordei passando mal”

há 3 horas 6

A designer Radharani Telles, de São Paulo, falou ao “Fantástico” após perder a visão por intoxicação por metanol. O caso ocorreu durante uma comemoração em um bar e está sob investigação da Polícia Civil e da Vigilância Sanitária.

Neste domingo (12), a designer de interiores Radharani Telles concedeu sua primeira entrevista após sofrer uma grave intoxicação por metanol. Em conversa com a jornalista Renata Ceribelli, do Fantástico, ela relembrou o momento em que perdeu a visão após consumir a substância durante uma comemoração de aniversário com colegas de trabalho.

O episódio ocorreu em 19 de setembro, uma sexta-feira. Radharani foi ao Ministrão, bar localizado em São Paulo, para celebrar o aniversário de uma amiga. Durante o encontro, consumiu três caipirinhas com vodca. Pouco tempo depois, começou a apresentar sintomas graves e, em seguida, perdeu a visão.

O que a designer não imaginava é que havia sido vítima de intoxicação por metanol. Dois dias após receber alta do hospital, Radharani recebeu a equipe do programa em casa e contou como tem sido o processo de adaptação e o que viveu durante a internação.

“[Estou me adaptando] à nova realidade. [Sinto] um pouco de alívio de ter saído do ambiente hospitalar, depois de 15 dias e um pouco de pânico… Eu sou muito ativa em casa, sou muito ativa na vida, e aí você parar e depender totalmente [de outras pessoas]… Não dá pra descrever. Eu ainda estou passando por esse processo, um pouco de aceitação, de luto”, desabafou.

Questionada se sente revolta com o que aconteceu, ela foi direta: “Gera. Saber que eu fui para um bar e passei por um processo de UTI e poderia ter perdido minha vida e saí cega? É revoltante”.

Radharani está há 18 dias sem enxergar, uma das sequelas da intoxicação. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Radharani detalhou o dia em que tudo aconteceu. Segundo ela, o encontro era para comemorar o aniversário de uma cliente e amiga. “Ela me chamou para ir num bar no Jardins. Chegando lá, vi uma menina tomando uma caipirinha [e disse]: ‘quero uma igual'”, contou. “Bebi três caipirinhas. Eu pedi a terceira caipirinha e lembro até ali. Não lembro de cantar parabéns para essa amiga, eu não lembro de como eu cheguei na minha casa”, relatou.

No dia seguinte, ela começou a sentir os primeiros sintomas da intoxicação: “Acordei quase meio-dia, acordei passando mal e preocupada com o almoço”. Sozinha em casa, ligou para familiares ao perceber que a situação se agravava: “Eu só lembro de ligar para a minha irmã e falar: ‘Vem em casa, que eu não tô passando bem’. Eu não lembro de mais nada”.

Lalita Domingos, irmã de Radharani, relatou o estado em que a encontrou. “Ela se questionava muito disso [dos pontos] e vomitando, o tempo inteiro”, lembrou, referindo-se à visão turva e aos pontos amarelos que a designer dizia enxergar.

Radharani foi levada ao hospital, onde o marido, Eduardo, chegou horas mais tarde. Os primeiros exames de sangue e uma tomografia não indicaram nenhuma anormalidade. Médicos chegaram a cogitar crise de burnout ou ataque de pânico e sugeriram que ela voltasse para casa.

Inconformada, Radharani insistiu que não se sentia bem e acabou sendo transferida para a UTI, sob suspeita de AVC (Acidente Vascular Cerebral). Após novos exames, seu quadro piorou: “Piorou num ponto em que eu falei pro meu marido: ‘socorro, eu tô morrendo'”.

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“Os médicos nos chamaram e disseram: ‘Olha, nós estamos perdendo a sua esposa'”, lembrou Eduardo. Na madrugada de domingo, 21 de setembro, ela foi entubada e colocada em coma induzido — foi então que surgiu a suspeita de intoxicação por metanol. “Os médicos da UTI, eles salvaram a vida dela. Foi um diagnóstico clínico e empírico, eles falam, porque não tinham exames que comprovassem [a intoxicação]. Eles só tinham exames que descartavam outras coisas”, contou o marido.

O exame que confirmou o diagnóstico saiu dez dias após a internação, deixando familiares e a equipe médica em choque. Radharani apresentava 415,90 mg de metanol no organismo. Segundo especialistas, quantidades acima de 100 mg já podem causar sequelas gravíssimas e “não são compatíveis com a vida”.

“Só me lembro de acordar, cinco dias depois, na UTI. Eu enxergava vultos, via os contornos de todas as pessoas que estavam em volta, mas a visão já estava escurecendo. Mas eu falava com os médicos e eles me medicavam. Falavam que se tratando de danos neurais, você precisa esperar de três a seis meses”, relatou.

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Buscando alternativas, a família procurou uma segunda opinião médica. “Essa foi devastadora. Ele fez exames de vista e falou: o seu caso é irreversível. Eu não queria aceitar”, lembrou.

A designer foi submetida a três sessões de um tratamento desenvolvido no Irã, popularizado após surtos de intoxicação por metanol, com resultados positivos quando aplicado até 72 horas após a ingestão. Os efeitos, no entanto, são de longo prazo — entre três e seis meses — e visam tentar recuperar ao menos parte da visão. Além disso, ela também segue o protocolo do Ministério da Saúde para casos de intoxicação.

Radharani vem passando por adaptações no dia a dia. “Já tomei banho sozinha, já coloquei pasta de dente sozinha, mas comer tem sido o mais difícil pra mim”, admitiu.

A designer chegou a ficar em coma induzido durante a internação. (Foto: Reprodução/TV Globo)

O Ministrão, bar onde ocorreu o episódio, foi interditado pela Vigilância Sanitária Municipal, Estadual e pela Polícia Civil. Em nota, o estabelecimento afirmou que o fechamento ocorreu como medida preventiva e que aguarda os resultados da perícia para esclarecer os fatos. O bar lamentou o ocorrido, expressou “profundo respeito e solidariedade” à designer e pediu que se evitem julgamentos precipitados. O laudo das garrafas apreendidas ainda não foi divulgado.

“A revolta, nesse momento, é tentar entender por que estão adulterando a bebida. Me envenenaram e estão envenenando outras pessoas. É revoltante, você pedir caipirinha e tomar metanol. De onde veio esse metanol? São respostas que a gente precisa ter”, afirmou.

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Mesmo diante da nova realidade, Radharani tenta manter-se firme: “Eu tento ser objetiva, prática. Eu recebi um apoio que eu jamais imaginei, muita gente enviando muitas orações, muitas vibrações”.

Ela também revelou que uma frase do marido a ajudou a encontrar forças: “Ele me disse assim: ‘você perdeu um dos seus sentidos e poderia ter perdido todos’. Aquilo pra mim foi muito importante, porque é realmente ter a noção da sobrevivência”. Clique aqui para assistir à reportagem completa.

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