Os impactos econômicos das tarifas recíprocas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil, iniciadas em abril de 2025 com uma alíquota base de 10% e elevadas a 50% em julho, continuam a reverberar na economia nacional. Economistas estimam perdas anuais de até US$ 15 bilhões na balança comercial e uma redução de 0,5% a 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) para 2025, equivalentes a R$ 175 bilhões a R$ 420 bilhões, dependendo da duração das medidas. Apesar de uma recente ordem executiva que isenta parcialmente produtos agrícolas da tarifa base, a sobretaxa de 40% persiste, agravando pressões inflacionárias e cambiais.
A política tarifária, justificada pela Casa Branca como resposta a desequilíbrios comerciais e barreiras não tarifárias, afeta diretamente o segundo maior parceiro comercial do Brasil, responsável por 12% das exportações totais em 2024 (US$ 39 bilhões). Analistas do Bradesco e do Santander projetam uma contração de 15% a 30% nas vendas para os EUA, com impactos concentrados no agronegócio, siderurgia e manufatura. “Essa medida representa um choque brutal, o maior desde os anos 1930, com efeitos desproporcionais para economias emergentes como a brasileira”, avalia o economista Paulo Gala, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Setores Mais Afetados e Projeções de Perdas
Os setores exportadores enfrentam reduções significativas em receita e competitividade, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e análises do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). A tabela abaixo resume os principais impactos:
| Agronegócio | 15,2 | 20-30% | Perdas de US$ 3-4,5 bi em soja, café e carne bovina; alta de 27,93% nas exportações de carne no 1º semestre revertida. |
| Siderurgia e Metais | 8,4 | 10-20% | Inviabilização de vendas de aço e alumínio (já com 25% sob Seção 232); impacto em US$ 1,5 bi. |
| Manufatura (Aviões, Autopeças) | 12,5 | 15-25% | Embraer e setor automotivo perdem US$ 2-3 bi; competitividade reduzida em 50%. |
| Petróleo e Derivados | 3,0 | 25-35% | Exposição de empresas como Cosan; busca por mercados asiáticos com margens menores. |
Fontes: Secex/MDIC, Bradesco e BTG Pactual.
O agronegócio, que representa 40% das exportações para os EUA, é o mais vulnerável. A carne bovina, com vendas de US$ 1,287 bilhão no primeiro semestre de 2025 (alta de 99,8% ante 2024), pode registrar retração de 20%, segundo a Associação Brasileira da Indústria da Alimentação (Abia). No setor aéreo, a Embraer é citada como a empresa mais impactada, com dependência de 20% do mercado norte-americano. A siderurgia, já pressionada pela desaceleração chinesa, vê exportações de aço cair 8,5% em receita desde março.
Pressões Macroeconômicas e Respostas Governamentais
A desvalorização do real, projetada em R$ 5,70 até o fim de 2025 pela MB Associados, eleva o custo de importações essenciais como fertilizantes e combustíveis, adicionando 0,35 a 2 pontos percentuais à inflação (IPCA estimado em 5,1% a 5,5%). O Banco Central respondeu com elevação da Selic para 14,25%, enquanto o superávit comercial pode encolher de US$ 80 bilhões em 2024 para US$ 60 bilhões. No emprego, projeções indicam até 1,3 milhão de demissões em cadeias produtivas, especialmente no Centro-Oeste e Sudeste.
O governo brasileiro, por meio da Lei da Reciprocidade Econômica (nº 15.122/2025), autoriza retaliações proporcionais, como tarifas sobre medicamentos e máquinas americanas, mas prioriza negociações bilaterais. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, agendou reuniões com o Departamento de Estado dos EUA para novembro, propondo acordos setoriais. “O Brasil dialoga de boa-fé, destacando nosso déficit comercial acumulado de US$ 410 bilhões em bens e serviços nos últimos 15 anos”, afirmou o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Oportunidades em Meio à Crise
Nem todos os efeitos são negativos. A tarifa de 145% sobre produtos chineses abre espaço para o Brasil capturar mercados na Ásia, com aumento projetado de 15% nas exportações de soja e milho para a China – o maior produtor mundial de soja pode elevar a safra 2024/25 para 169 milhões de toneladas. Acordos com a União Europeia e diversificação para Chile, México e Rússia também mitigam riscos, conforme o Observatório de Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (Opeb).
Entidades como a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e a Câmara Americana de Comércio (Amcham) manifestam preocupação com a interligação produtiva Brasil-EUA, alertando para prejuízos em investimentos e cadeias globais. “Uma quebra nessa relação traria impactos graves para empregos e produção”, adverte José Augusto de Castro, da AEB.
Em síntese, o tarifaço de Trump impõe desafios imediatos ao Brasil, com perdas setoriais bilionárias e freio no crescimento, mas reforça a necessidade de diversificação comercial. Analistas do UBS e Citi preveem que, com avanços diplomáticos, até 70% das perdas possam ser revertidas em 2026. O Itamaraty monitora o cenário de perto, em meio a críticas internacionais à OMC por violações às normas de comércio.
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