O “Fantástico” deste domingo (12) divulgou áudios e ligações de Ana Paula Veloso Fernandes feitas para a polícia após a morte de quatro vítimas por suspeita de envenenamento. Em todas as chamadas foi a estudante de direito, de 35 anos, quem relatou as ocorrências. Segundo a reportagem, ela ainda manipulava as evidências para despistar a polícia. Os crimes aconteceram em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Ana Paula é considerada uma “serial killer”, e teria matado as pessoas para ficar com seus bens. Durante as investigações, as autoridades concluíram que as vítimas foram: Marcelo Hari Fonseca, dono de um imóvel; Maria Aparecida Rodrigues, uma amiga virtual que morava em Guarulhos (SP); Neil Corrêa da Silva, pai de uma ex-colega e morador de Duque de Caxias (RJ); e Hayder Mhazres, um namorado nascido na Tunísia, morto na capital paulista.
Marcelo Hari: 31 de janeiro
Em uma das ligações à Polícia Militar, através do número 190, a suspeita disse: “Eu queria chamar uma viatura aqui no portão da minha casa”. O pedido seria para uma ocorrência em janeiro deste ano, em Guarulhos. A policial que foi até o local chegou a filmar a interação com Ana Paula e a reação dela ao descobrir que uma das vítimas, neste caso Marcelo, havia falecido.
“Foi a senhora que ligou?”, perguntou a agente. “Foi. O que acontece, eu chamei o meu vizinho uns três, quatro dias e ele não responde”, relatou a suspeita. Após a policial constatar o óbito, a mulher finge o espanto, mas logo é vista sorrindo diante da informação.

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Ana Paula deixou Duque de Caxias e foi para Guarulhos, no início de 2025, junto com a irmã, Roberta. “Ela passa a morar na casa do Marcelo, sob o pretexto de um suposto aluguel. As pessoas não iam muito à residência. Elas verificaram uma oportunidade de ficar com aquela residência. A partir daí, ela decide matá-lo”, explicou o delegado Halisson Ideião.
Segundo a polícia, a suspeita colocou em prática o plano quatro dias depois de chegar à casa. “Ela ministra o veneno e decide deixá-lo durante vários dias para dificultar a investigação”, salientou o delegado.
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Maria Aparecida: 11 de abril
Posteriormente, Ana Paula começou a sair com um policial militar, que é casado. Por esta razão, o relacionamento não seguiu adiante. Para se vingar, ela recorreu às redes sociais a fim de contatar a esposa dele, Maria Aparecida, a quem se apresentou como Carla. Em um áudio divulgado pelo dominical, a vítima detalhou um dos encontros com a suspeita.
“Eu tô saindo de casa agora, vou levar a Carla na casa dela, tá bom? Eu vou ficar lá, vou tomar um café na casa dela”, informou. Ao voltar para sua residência, Maria passou mal e morreu. “Ela conheceu através de um aplicativo de namoro. E minha mãe só falou dela um dia antes de sair com ela”, recordou a filha da vítima.
Conforme Ideião, Ana Paula matou Maria para incriminar o policial militar com quem estava saindo. “Ela faz com que a vítima compre um chip, faça um bilhete com o nome do policial militar, colocando frases como: ‘Perigoso’, ‘homem perigoso’, ‘vai me matar’. O objetivo dela, neste caso, não é que fosse feito um boletim de morte natural, mas de morte suspeita”, declarou.
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A estudante de direito seguiu o mesmo modus operandi, e ligou para a polícia. “Eu queria denunciar um assassinato. Ela teve uma briga com um policial. Ele ameaçou ela de morte”, disse na chamada. Em uma segunda tentativa, ela afirmou ter encontrado um bolo supostamente envenenado na sala onde estuda.
O bolo estaria com um bilhete, assinado com o nome da esposa do PM. “Todo mundo já cheirou o bolo e está sentindo um odor forte”, argumentou. O óbito de Maria Aparecida foi registrado em 11 de abril. À polícia, a filha dela testemunhou que Ana Paula queria pegar umas roupas que supostamente teria deixado na residência da vítima. Além disso, ela não foi ao velório e enterro.

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Neil Corrêa: 26 de abril
No mesmo mês, o aposentado Neil Corrêa da Silva veio a óbito, aos 65 anos, após comer uma feijoada levada pela estudante. Ela e a filha do homem eram amigas na faculdade.
De acordo com a investigação, Michelle contratou Ana Paula para que ela fosse de Guarulhos a Duque de Caxias envenenar a comida do pai. A universitária também teria matado dez cães durante os testes com o produto para saber se ele faria efeito.
“Ele tinha um problema de mastigação, então só comia comida batida no liquidificador. A própria Michelle preparou a comida, colocou um frasco do chumbinho levado por Ana Paula e ofereceu ao pai. O senhor Neil vem a falecer no hospital, elas rompem e começam a se acusar mutuamente”, detalhou o delegado.
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A polícia também revelou que há trocas de mensagens por WhatsApp entre Ana Paula e Roberta com o uso constante da sigla “TCC”, numa falsa referência acadêmica a “Trabalho de Conclusão de Curso”. No entanto, o termo era o código para cobrar os R$ 4 mil que Michelle pagaria a elas para matar o idoso.
“Já fiz o TCC pra ela, foi demorado. Não fica mais de conversinha não”, sugeriu a suspeita em um áudio. Segundo policiais, pai e filha tinham diversos desentendimentos. Michelle foi presa, assim como Ana Paula e Roberta.
Em depoimento, a própria universitária confessou o crime: “Eu ajudei uma amiga que mandou matar o pai. O Neil”. Ela também assumiu o crime contra Marcelo, mas negou o uso de veneno. “Eu fui com uma faca e dei uma facada na axila dele”, pontuou. Porém, a polícia argumentou que não havia perfuração no corpo da vítima, e que a mulher mentiu no depoimento para atrapalhar as investigações.
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Hayder Mhazres: 23 de maio
A quarta vítima foi Hayder Mhazres, um tunisiano de 21 anos com quem Ana Paula mantinha um relacionamento amoroso, em São Paulo. “Ela inventou uma mentira junto com a irmã. Elas forjaram uma suposta gravidez da Ana Paula”, afirmou Ideião. Em outro áudio, a suspeita comentou: “Eu quero me casar, fazer minha vida. Como é que vai ser?”.
Conforme o delegado, Hayder optou por encerrar o relacionamento. “A partir daí, ela decide matá-lo. Ela comprou um milkshake, colocou o veneno e eles vão em direção à casa dele. Ele começa a passar mal e a Ana Paula finge que está socorrendo ele. Ela chegou a mandar um vídeo para a irmã, que tinha ciência do plano criminoso. Logo depois, o Hayder vem a morrer”, completou o delegado.
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O corpo do estrangeiro não foi exumado porque seguiu para a Tunísia. Mas, para a investigação, o jovem foi envenenado. Contudo, os corpos das outras três vítimas já foram encaminhados para análise. A principal hipótese trabalhada pelos peritos é de que as quatro mortes foram causadas pelo uso de “chumbinho“, nome popular para veneno contra ratos.
A Polícia Civil apura se há mais vítimas. Ana Paula está presa preventivamente numa unidade prisional na capital paulista. Já Roberta e Michelle estão detidas temporariamente em presídios de Guarulhos.
“A Ana Paula tem prazer em matar. A motivação pouco importa para ela. Ela quer matar (…) Ela é uma serial killer e, inclusive, está sendo objeto do núcleo de análise comportamental do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da capital”, concluiu o delegado.
Assista à íntegra:
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