Viúvo de Gilberto Braga aponta pior alteração em remake de “Vale Tudo” e avalia adaptação: “Gilberto não teria gostado nada” Viúvo de Gilberto Braga aponta pior alteração em remake de “Vale Tudo” e avalia adaptação: “Gilberto não teria gostado nada”

há 2 dias 11

Edgar Moura Brasil, viúvo do autor Gilberto Braga, falou à Folha sobre a nova adaptação de "Vale Tudo", comentando o trabalho de Manuela Dias e avaliando a relação da versão de 2025 com a obra original do escritor.

Nesta segunda-feira (6), Edgar Moura Brasil, viúvo do autor Gilberto Braga, falou sobre a adaptação de “Vale Tudo“. Em conversa com a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o decorador avaliou o trabalho de Manuela Dias. Além de apontar o que considera a pior alteração na trama, Edgar afirmou que o remake “não teve respeito pela obra original”.

Exibida em 1988, a primeira versão de “Vale Tudo” foi escrita por Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Ao longo dos últimos meses, o viúvo contou ter assistido a alguns capítulos “uma vez ou outra”, mas acompanhou de forma mais próxima a repercussão e a evolução da história pela internet.

Segundo ele, a versão escrita por Manuela não respeitou o texto de Gilberto. Edgar lamentou que a essência da novela tenha se perdido na adaptação de 2025: “Fico triste em ver que a proposta original de “Vale Tudo”, [a reflexão] ‘vale a pena ser honesto no Brasil’ se perdeu, junto com as qualidades de dramaturgia da novela, coerência nos personagens, profundidade nos diálogos etc. O tema proposto pelos autores Gilberto, Aguinaldo e Leonor continua super atual, muita gente continua a pensar em tirar vantagem em tudo, basta ver os recentes escândalos do INSS, falsificação de bebidas e daí por diante…”.

Companheiro de Braga por 48 anos, Edgar também refletiu sobre como o autor reagiria ao remake: “Acho que Gilberto não teria gostado nada. Gilberto era um profundo conhecedor do ser humano, um homem culto e de bom gosto. Jamais teria construído personagens tão tacanhos e incoerentes”.

Leonardo (Guilherme Magon), Celina (Malu Galli), Heleninha (Paolla Oliveira), Odete (Debora Bloch) e Afonso (Humberto Carrão) reunidos. (Foto: Globo/Fábio Rocha)

Na avaliação do decorador, a pior parte da adaptação foi a transformação da grande vilã. “A pior alteração foi a Odete Roitman, personagem tão rica ter virado uma pessoa louca, inconsequente, atirando e tentando envenenar as pessoas, virando praticamente uma serial killer ninfomaníaca”, lamentou.

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Edgar também fez críticas diretas à autora: “A adaptadora se justifica dizendo que humanizou a personagem, mas acredito que ela não tenha nenhuma ideia do que seja uma humanização. A Odete Roitman criada por Gilberto, Aguinaldo e Leonor era humana o suficiente para dentro de sua maldade. Ela se preocupava com os filhos e com a família e jamais deixaria um filho morrer para esconder um crime do passado. Menos ainda colocaria um filho deficiente morando em uma choupana no meio do mato. Ela teria recursos suficientes para mandá-lo para a Suíça ou para qualquer outro lugar milionário, que o tratasse com dignidade, bem longe da família, se essa era sua intenção. Humanizar uma personagem não é emburrecê-la”.

Manuela Dias está na reta final do remake de “Vale Tudo”. (Foto: Reprodução/TV Globo; Manoella Mello)

O viúvo de Gilberto foi incisivo ao afirmar que a autora não fez justiça à obra original: “Não, não foi respeitada, ao contrário, foi destruída. Seria tão simples ter atualizado, colocado situações atuais. ‘Vale Tudo’ original foi uma novela fantástica. Diálogos primorosos, personagens bem trabalhados, humanos e nada maniqueístas. O final de Maria de Fátima casando com o príncipe, amante rico do Cesar, retratando bem a imoralidade da nossa sociedade, a inútil tentativa de redenção de Maria de Fátima, o envolvimento apaixonado de Raquel e Ivan, a cura de Heleninha. Tudo foi coerente, envolvente e mostrou que a nossa sociedade continua a mesma. A banana que o Marco Aurélio dá pro Brasil no final é a síntese da crença da impunidade que ainda assola o nosso país”.

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Por fim, Edgar afirmou que Manuela Dias “não teve lastro nem intimidade intelectual” para assinar uma obra do porte de Gilberto Braga. Questionado sobre o que faltou, ele respondeu: “Pessoalmente acho que faltou talento, humildade perante à obra, elegância nos diálogos, refinamento na psicologia dos personagens e, principalmente, falta de conhecimento dos grandes clássicos da literatura, do cinema e também das novelas”.

O decorador concluiu: “Não consigo ver nada de positivo, a não ser provar que o nível das novelas atuais é infinitamente inferior às que foram produzidas nas décadas passadas. E isso não é nostalgia, é uma constatação”.

Edgar e Gilberto foram um casal por 48 anos. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

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